terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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Voltando a fatídica noite do fim.
Aquela noite eu não voltei pra casa....Sentia que não havia espaço para mim lá e para tudo que rondava minha mente, resolvi espairecer por ai. Comprei uma garrafa de vinho barato em um boteco de quinta categoria, sai pelas ruas da cidade bebendo sem direção. Não me importava com mais nada, nada mesmo, queria apenas que aquela angústia que me destruía acabasse de uma vez por todas e nada mais.
Sem rumo, fui bebendo e cambaleando pelos cantos. Nunca fui de beber encher a cara, nunca havia feito isso antes. Sempre considerei bebida algo para sociabilizar com amigos, não para passar da conta...mas eu buscava naquela garrafa o conforto e solução que ninguém mais poderia me dar. Aos poucos a bebida foi me entorpecendo...fui perdendo a noção do que era real...As cores já não eram mais as mesmas, o horizonte não era linear....Enfim, era como se meu corpo não seguisse mais meus comandos.
Talvez os fatos que eu narre agora estejam fora de nexo e sentido, mas é a forma que me recordo pelo estado em que estava.
Um homem chegou parto de mim:
_E ai magrão! tem fogo?
_Não, eu não fumo
_Então me passa uma grana ai meu!
Ele estava ficando irritado, mas não parecia estar em estado melhor que o meu, não lembro o que eu falei, mas sei que entramos numa briga. Logo após isso...eu acordei caído no chão, verifiquei se minha carteira estava no bolso e estava, mas tinha dificuldade pra me erguer - As únicas coisas que não estavam comigo eram a garrafa e meus tênis.
Ao me erguer, escutei um barulho estranho...o efeito do álcool já estava passando. Observei dois homens encima de uma garota, eles estavam batendo nela e tentando estuprá-la. Pelo jeito não ligaram para um garoto caído no chão. Eu primeiramente decidi não interferir...não era comigo...estas coisas acontecem...mas fui ouvindo os gritos dela de socorro...e logo imaginei se isso acontecesse com a Domi. Parei de raciocinar, agarrei um pedaço de cano caído no chão e corri pra cima deles, desferindo um golpe certeiro na nuca de um que caiu ensangüentado no chão. O outro ficou sem reação, eu ameacei acertá-lo e ele agarrou o outro e saiu correndo gritando coisas como "Você vai pagar herói!", “isso não fica assim!"
Eu larguei o cano, olhei para a garota, ela estava encostada na parede, tremia e chorava copiosamente segurando os trapos que antes eram a sua roupa. Ela tinha cabelos loiros, estava com alguns machucados pelo corpo.
Eu estendi a mão pra ela e disse:
_Venha, vamos para delegacia.
Ela se levantou e chorando se abraçou em mim.
Decidi que a levaria para prestar queixa, e depois tudo acabaria...ledo engano...
 
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Requiem da Meia-Noite by Ródjer Goulart is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.