quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

10

Preto, com listras prateadas e amortecedor de impacto.
É incrível como os tênis andam caros hoje em dia. Eu não queria pagar um tênis muito caro, o máximo seria cinqüenta reais, porém Aline insistiu de forma infantil em completar o dinheiro e pegar um tênis mais pomposo – Ela disse que me devia por ter salvado ela aquele dia.
_Então, vamos comer algo agora? – disse ela.
_Vamos nessa!
Saímos da loja e mergulhamos mais uma vez no mar de pessoas. Deixei que ela guiasse nossos passos, pois eu estava sem idéia de um bom lugar para comer. Acabamos chegando no shopping da Rua da Praia, fomos até a praça de alimentação. Eu sempre achei a praça de alimentação deste shopping estranha, pois é quase como entrar num portal dimensional. Eu demorei pra perceber que ali tinha uma área tão grande.
_Hoje quero comer comida de verdade – disse ela – Aqui tem um lugar ótimo...
Fiquei surpreso! quando sentamos à mesa, o prato dela se equiparava ao meu. Era praticamente um “morrinho”, nunca imaginei que uma garota magrinha e bonitinha como ela comece tanto, pra onde vai tudo isso? Será que ela tem uma perna oca?
_Sabe Arthur, quando você foi lá em casa, eu percebi que você tem uma tatuagem que pega teu peito e da volta nas costas...é algo escrito mas não consegui entender, o que é? – Ela indagou antes de dar uma bela garfada no seu purê.
_É uma frase em latim, “Crudelius est quam mori semper mortem timere”, que significa “Temer a morte é morrer duas vezes”.
_Nossa, frase bem forte esta, por que escolheu ela?
_É estranho – engoli o que comia – Eu nunca tive medo da morte, dês de pequeno sabe. Eu vejo como apenas mais uma fase da vida, é algo inevitável que acontece com tudo aquilo que vive.
_Uau! – diz ela após um gole de suco de laranja – Que profundo! Eu não sou assim, tenho medo da morte, de deixar as pessoas que eu amo e que me amam...
Ela foi baixando a voz e desviando o olhar no meio da frase. Acho que ela lembrou de alguma coisa ou alguém. Era melhor eu mudar de assunto.
_Hum...Mas a comida daqui é muito gostosa mesmo hein....
_Você gostou? – Ela abriu um sorriso novamente – Eu venho aqui com freqüência até. Meus amigos sempre dizem que eu como demais e que não engordo de ruim mesmo, hi!hi!hi!hi!

Aos poucos fui criando uma afinidade maior com Aline. Eu gostava da companhia dela, me deixava feliz. Ela era tão meiga quando sorria, e eu sentia um instinto de protegê-la de tudo, como se precisasse estar perto dela para não fazer ela passar por nada de mal outra vez – Acho que comecei a ver algo a mais nela...
Eu antes estava com o coração fechado, sentia como se não pudesse ser feliz com mais ninguém....mas estranhamente, algo esta germinando neste terreno infértil, sinto que uma pequena folha conseguiu romper o solo. Não é anda demais, mas consegui perceber que posso sentir algo por mais alguém além do que senti pela Domi. O que sinto por ela ainda existe, mas este sentimento já esta abrindo concessão para que algum outro tome o seu lugar.

Já passava das 14h, eu precisava fazer outras coisas ainda neste dia. Nós andávamos na casa de cultura Mário Quintana, no jardim.
_Aline, eu preciso ir agora, tenho que organizar algumas coisas que estão fora de si na minha vida.
_Ah! Sério? Você não pode ficar nem mais um pouquinho? – disse ela com olhar de cão pidão.
-Sério, bem que eu gostaria, mas se eu enrolar mais, vai virar uma grande bola de neve e...

Num súbito e repentino movimento que fugiu dos meus olhos, ela me desferiu um beijo na boca.

_Bem...então boa sorte, agente se fala...
E como uma lebre ela disparou correndo dali com a face avermelhada como o tomate mais maduro de verão. Ela saiu deixando no ar um rastro de pequenas risadas contidas.
Confesso que fiquei pasmo ali, parado. Sabia que ela estava afim de mim, mas não esperava uma atitude tão repentina assim – Confesso que gostei...mas agora eu tinha que ir, o dia ainda tinha que render bastante pra mim por tudo no seu devido lugar...

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